27 / 07 / 11

Amy Winehouse (1983 – 2011)

Assim como outros grandes astros da música, como Jimi Hendrix e Janis Joplin, a voz de Amy Winehouse calou-se para sempre

Rio de Janeiro, 23 de julho de 2011

A essa hora, o Facebook, Twitter, as redes sociais de todo o mundo, celulares potentes conectados à Internet, iPads, laptops, desktops em geral devem estar “bombando” com os amigos, fãs e curiosos comentando a morte de Amy Winehouse. Hoje é sábado, 23 de julho de 2011. Acordei um pouco mais tarde do que os dias de semana, em que a música me chama para trabalhar no estúdio que fica dentro de minha casa, em uma das salas, e quando liguei a TV para ver as notícias, acabei ficando com os olhos grudados na chamada que vinha de um canal de TV, comentando que a polícia de Londres tinha sido chamada para ver o corpo de uma jovem de 27 anos, no bairro chique de Candem Town, ao norte de Londres, e que essa jovem seria a cantora Amy Winehouse.

Eu escrevo em meu editor de texto, aqui em meu estúdio de gravação. Surpresa não foi para ninguém. Essa cantora inglesa, branca, com forte influencia da Soul Music americana, parece-me ter incorporado esse estilo tão bacana e reverenciado pelos ingleses, que nunca esconderam sua admiração pelo balanço e charme da música negra americana. E Amy realmente cantava como uma negra, com um estilo muito próprio, mas nunca esquecendo a influência que recebeu de Aretha Franklin, Chaka Khan, e até uma pitada de Billie Holiday. É sempre assim com os britânicos. Eles têm tudo em suas mãos, os melhores estúdios do mundo, altíssima tecnologia, excelentes músicos, produtores sempre descolados e moderninhos, mas no fundo, eles, os músicos, sempre tiveram uma enorme admiração, e por que não dizer , influência da música negra americana. Isso também aconteceu com as gerações anteriores a de Amy. Não é novidade nenhuma que os Rolling Stones, por exemplo, tiveram, em sua formação, o Blues de Howlin’ Wolf, Muddy Waters, Buddy Guy e Robert Johnson como fonte de inspiração. E nos EUA acontece o mesmo fenômeno. Sempre que os músicos americanos escutam os discos que chegam da Inglaterra, o comentário é quase o mesmo: “Como esses caras conseguem tirar esse som? E como eles conseguem esse alto padrão de mixagem nos discos?” E assim a música vai tomando essa forma, com um certo charme e encanto de músicos incríveis do mundo todo, e talvez por isso ela se torne tão interessante, tão apaixonante.

Amy Winehouse

Amy quando criança

Amy quando criança

Seu primeiro disco, “Frank” (2003), que, por sinal, não fez tanto sucesso, mas é um disco espetacular, já mostrava uma cantora com fortes raízes na Soul Music, até chegar às paradas de sucesso com o disco “Black to Black” (2006), este, sim, projetando Amy ao estrelato, e ganhando 5 prêmios Grammy, os quais Amy não pode receber, porque o governo dos EUA não concedeu visto de entrada no país por considerá-la perigosa, com os sucessivos escândalos que ela vinha protagonizando, como prisões por porte de drogas, bebedeiras incríveis nos bares, e sempre metida em confusões. Mas não há dúvidas de que as 5 estatuetas ganhas por ela só reforçaram que ali estava uma cantora diferente, que além de ter feito sucesso com o disco, nos revelava também uma compositora maravilhosa, escrevendo as canções daquele álbum. É claro que tanto sucesso da noite para o dia trouxe consequências, e é nítido que Amy, por mais estrela que fosse, nos parecia bem frágil. O produtor de “Black to Black”, Mark Ronson, teve bastante trabalho com Amy no estúdio, com atrasos, faltas em horários no estúdio, mas teve uma colaboração muito importante para que o trabalho se tornasse um sucesso.

"Back to Black", de 2006

"Back to Black", de 2006

Comenta-se, no mercado fonográfico, que Mark Ronson não aprovava de maneira alguma o relacionamento de Amy com então namorado, Blake Fielder-Civil, uma figura que nunca escondeu de ninguém suas preferências por drogas pesadíssimas, e que muitos contam que foi quem introduziu Amy às drogas injetáveis e lhe apresentou a heroína, a cocaína e o lixo do lixo do lixo, o “crack”. Também consumiam álcool em doses colossais. Queridos leitores, ninguém precisa entender do assunto para saber que essa combinação de drogas injetáveis, como a heroína e a cocaína, e o auxílio de álcool causa combustão, causa uma devastadora crise em qualquer mortal. O maior “doidão” de todos, o genial guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, é uma exceção e conseguiu sobreviver ao mundo das drogas, mas soube parar enquanto era tempo, e está aí até hoje, com seus 68 anos de idade, mas uma jovem de apenas 27 anos, e namorando um, desculpem-me o termo, “um farrapo humano”, como é Blake Fielder-Civil, não poderia dar em boa coisa.

Blake Fielder-Civil e Amy no MTV Movie Awards de 2007

Blake Fielder-Civil e Amy no MTV Movie Awards de 2007

Amigos leitores, eu tenho o orgulho e a honra de escrever para o Portal Batelli, do magnífico Ciro Batelli, e para a revista Evidência Cosmopolita, comandada tão bem por Gigi Accioly e Vasconcellos De Matteo, e o faço com muita dedicação e cuidado para escrever para esses dois veículos fantásticos de comunicação, e vocês, amigos leitores, são de um altíssimo nível social, econômico e intelectual, então vou poupá-los de maiores detalhes, de detalhes sórdidos; deixo isso para os jornais sensacionalistas, que gostam da desgraça das pessoas para vender notícias, não sendo esse o caso aqui, mas essas informações eu tinha que dar a vocês, para que vocês tenham noção de que seria impossível manter Amy Winehouse por mais tempo entre nós se ela não mudasse a sua maneira de viver radicalmente. Ninguém suporta tanta química em seu corpo, o organismo de uma pessoa normal não foi feito para suportar tanta carga. Soma-se a isso uma desorganizada maneira de se alimentar, que a fazia perder peso com muita rapidez, e não poderia dar em outra coisa.

Amy, com aparência bastante fragilizada

Amy, com aparência bastante fragilizada

Amy vivia em uma mansão de US$ 4 milhões no bairro boêmio e charmoso de Candem Town, um lugar repleto de cultura, o lugar da moda, das lojas mais descoladas, roupas incríveis, pubs bacanas e super bem frequentados (vejam nas fotos ilustradas). Mas, também, os mais descolados sabem que conseguir o cocktail de que Amy tanto gostava e era totalmente dependente era muito fácil em Candem Town: é só dar uma volta em um de seus inúmeros pubs, ou nas ruas de Candem, que você vai voltar para casa ou para seu hotel com o bolso cheio do que quiser usar para levantar voo. O salto nas listas dos mais vendidos representa a chegada de Amy Winehouse à galeria de artistas cujas vendas são alavancadas com sua morte prematura, no melhor de sua juventude. Não será surpresa alguma se a Universal Music decidir lançar seu terceiro e inacabado disco. Comenta-se que o disco estava bem adiantado, e se realmente as vozes de Amy estiverem gravadas, mesmo que tenham sido feitas como “voz guia” (aquela maneira que o artista grava a voz para que instrumentos sejam colocados e os arranjos sejam feitos), não tenham dúvidas de que a gravadora lançará esse material.

Candem Town

Candem Town

No momento, os executivos devem estar bastante satisfeitos com o fato de “Frank” – seu primeiro álbum, como eu já tinha comentado aqui, que teve um sucesso comercial bem modesto, ao contrário das 10 milhões de cópias vendidas de “Black to Black” – ter pulado para a quarta posição em vendas, algo incalculável antes de sua morte. No Reino Unido, o ritmo de vendas aumentou 37 vezes desde o anúncio da morte de Amy, segundo a “Official Charts Company”, empresa que compila vendas de música no país. Eu, que conheço bem a indústria fonográfica e seus bastidores, acho que a própria indústria deveria tê-la tratado como uma dependente química, que precisava de tratamento médico, de cuidados, de carinho e amor, mas isso não aconteceu, e a essa altura, os executivos de sua gravadora devem estar estourando champagne, porque, na verdade, Amy Winehouse, hoje, vale muito mais morta do que se viva estivesse. Foi assim com Janis Joplin, Jimi Hendrix, Brian Jones (dos Rolling Stones), Jim Morrison, Kurt Cobain, Billie Holiday e muitos outros astros da música, todos com a maldição de uma partida prematura, com apenas 27 anos de idade.

"Frank", de 2003

"Frank", de 2003

Muitos atirarão pedras, outros vão chorar sua morte. Eu, particularmente, tomei duas doses de Whisky e fui almoçar ouvindo “Frank” (vejam o que estou ouvindo agora do disco “Frank”, por exemplo: http://youtu.be/egpsoqLxkQE), seu primeiro álbum, antes do estouro de “Black to Black”, que também está aqui em casa, comprado por mim há muito tempo, desde que Amy chamou-me a atenção com sua música espetacular e cheia de balanço. Acho uma pena ela ter saído de cena tão cedo, mas não há “glamour” nenhum nas drogas, é preciso ficarmos alertas quanto a isso. É “barra pesada” demais, e não podemos ter ou achar “glamour” com heroína e cocaína, muito menos o “crack”, esta droga devastadora. É um preço muita alto a se pagar.

Amy

Amy

Sai de cena uma cantora que sacudiu o mercado cheios de caretas insuportáveis, de “pagodes mauricinhos” e do famigerado, como é que chamam mesmo? Ahhh, lembrei: “Sertanejo Universitário”, seja lá o que isso signifique. Argh! E tantas outras bobagens que o mercado empurra para os que têm preguiça em pensar e garimpar música de qualidade. Acho importante frisar aqui, para os amigos leitores, que Amy Winehouse deu uma sacudida nesse mercado do mundo do disco, com sua estética da verdadeira Soul Music dos anos 1960/70 da gravadora Motown, de Berry Gordy, que gerou uma música incrível, da qual eu sou verdadeiro fã, e sempre influenciou meu trabalho solo, até os dias de hoje. Eu tenho muita esperança e curiosidade de ouvir esse terceiro disco de Amy. Espero que sua voz esteja firme e bem gravada. Agora será uma questão de tempo até resolverem fazer esse lançamento.

Vejam agora, neste vídeo, como Amy estava cantando tão bem, apenas acompanhada no piano Fender Rhodes, na música “Love Is a Losing game”, e é inevitável, também, notar que ela carregava um tom depressivo em sua vida: http://youtu.be/4L9-AvjsB6g

Desde sábado, fãs da cantora fazem uma romaria em frente de sua mansão, e flores, fotos de Amy e até garrafas de bebidas não param de chegar. Sua casa permanece cercada pela polícia Londrina. Turistas que circulavam pelos mercados vizinhos que movimentam os fins de semana em Candem aproveitaram para passar pelo local.

Polícia investiga morte de Winehouse

Polícia investiga morte de Winehouse

Foi vista, também na mansão, uma grande movimentação de policiais, em especial de peritos. A polícia se recusou a comentar as especulações sobre o que tirou a vida de Amy, que passou os últimos anos de vida às voltas com excessivos abusos de álcool e drogas, e que este seja o motivo de sua morte. O tablóide sensacionalista “Daily Mirror” afirmou que a cantora teria morrido intoxicada por ecstasy. Chris Goodman, representante e amigo de Amy, afirmou que a cantora “morreu sozinha e dormindo”.

Seu pai, Mitch, e sua mãe, Janis, divulgaram um comunicado em que disseram ter um vazio em suas vidas com a morte da filha, e pediram à mídia privacidade. Janis esteve com a filha na véspera de sua morte e achou que ela não estava bem. “Ela parecia estar fora de controle”, afirmou ao tablóide “Sunday Mirror”.

Os pais de Amy em frente à casa da cantora

Os pais de Amy em frente à casa da cantora

Quando uma artista, cantora e compositora espetacular como Amy Winehouse sai de cena tão cedo, é inevitável pensar o que ela estaria fazendo daqui a dez anos e que música ela faria; e isso também traz à tona a lembrança de tantos ídolos, de músicos incríveis que nos deixaram pela mesma maneira de viver, pela mesma escolha. Não vou ficar aqui tentando dar lição de moral a ninguém, mas é certo que, em uma tragédia como essa, não há vencedores. Quem perde é a música, quem perde são seus admiradores e uma estética que vinha dando uma renovada no cenário musical.

Amy Winehouse fará muita falta, mas agora, escrevendo aqui em meu estúdio, “Frank”, seu primeiro álbum, está tocando em alto e bom som.

Beijos, abraços, e até a próxima.

Beto Saroldi

Beto Saroldi - Rio de Janeiro/RJ

Saxofonista, compositor e produtor musical, começou sua carreira em 1975 com Eduardo Dusek e desde cedo foi muito requisitado nos estúdios, gravando com Fafá de Belém, Zizi Possi, Capital Inicial, Barão Vermelho, Gilberto Gil, Toquinho, Lulu Santos e muitos outros astros da MPB. Fez parceria com Erasmo e Roberto Carlos, tocou com Wagner Tiso & Lô Borges e ainda pertenceu a "UmBandaUm" de Gilberto Gil, fazendo turnês pelo Brasil, EUA, Europa, América Central e Oriente Médio.

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