30 / 09 / 11

Ingratidão

Foto: divulgação

A ingratidão é a ausência do reconhecimento humano. Nada dói mais do que a ingratidão.

Conta-nos a história bíblica que Jesus curou dez leprosos e apenas um voltou para agradecer. O Mestre, olhando-o, perguntou-lhe:

“Não foram dez os que curei? Onde estão os outros?” Tendo o agraciado respondido: “Senhor, eles se foram.”

Como se vê, até Jesus sentiu a ingratidão humana. Há pessoas que só se lembram de pedir, jamais de agradecer. Acham que tudo podem, tudo merecem, e depois se esquecem. Seguem indiferentes, como os leprosos ingratos.

Certa feita li que há pessoas que guardam no inconsciente uma espécie de revolta contra aqueles que as ajudaram. A tese causa espécie, mas para os que leram “Palavras Cínicas”, há um pouco de verdade nessa afirmação. Existem pessoas que não admitem ter sido ajudadas. Chegam ao topo da glória e da fama e, se pudessem, queimariam a frágil e pequenina escada que um dia lhes serviu de degrau. Tornam-se vaidosas, arrogantes, prepotentes e oniscientes. Sabem tudo, podem tudo.

O ingrato sempre escolhe alguém que esteja acima dele e que possa ajudá-lo a crescer ainda mais, mesmo que para isso tenha que se submeter às mais deploráveis situações e vexames. Tem memória fraca, esquece rápido, quer subir, mesmo que para isso tenha que descer.

Augusto dos Anjos, poeta paraibano, diz, em versos:

“Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.”

A ingratidão e a traição andam juntas, são companheiras inseparáveis.

Jesus perdoou a adúltera, a prostituta e o bom ladrão, mas não perdoou o traidor.

No mundo atual, onde os valores éticos, morais e políticos estão cada vez mais desvirtuados, disse Alfonso Milagro que três coisas devemos ser: puros, justos e honrados. E três coisas devemos desprezar: a crueldade, a arrogância e a ingratidão.

Aos ingratos, eis minha catarse.

Dr. Sebastião Palmeira/Maceió-AL

Sebastião José Palmeira é advogado criminalista, Procurador de Estado, especialista em Direito Penal, professor de criminologia, membro da Academia Maceioense de Letras e diretor-geral da Seune-AL.

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