21 / 11 / 11

Candy Dulfer, uma mulher linda que toca sax com a alma!

Fotos: divulgação

Amigos, muito boa noite!

Hoje minha coluna vai falar de uma saxofonista holandesa linda, sexy, simpatissíssima e que toca muito saxofone – e desse assunto, eu entendo um pouco, não é mesmo?

Eu já conhecia há muito tempo a Candy Dulfer, sempre gostei de seus discos, de sua maneira de tocar, com tudo que eu considero que se tem que ter para tocar esse instrumento maravilhoso. Ela tem uma sonoridade belíssima, tem ótimo fôlego, um fraseado muito bem construído e sabe improvisar muito bem. Não foi surpresa pra mim, que já a conhecia, notar que ela, nascida na Holanda, tem uma forte influência da música Soul americana, de que tanto gosto e que está muito presente em minha carreira solo. Você pode até gostar muito de Soul e R&B, mas ser branca e nascida na Holanda pode não te dar a credencial necessária para ter esse balanço, esse “Groove”, e Candy tem balanço de sobra em sua música. E tem o público em suas mãos. Realmente, ela nasceu para tocar.

Para os que ainda não a conhecem, a carreira de Candy Dulfer se desenrolou de maneira muito rápida: ela pegou o saxofone pela primeira vez em 1975 (curiosamente, o ano de minha estreia profissional com Eduardo Dussek, no Teatro Opinião). A diferença é que ela tinha apenas 6 anos de idade. Desde então, não teve mais descanso.

Natural de Amsterdam, Holanda, Candy cresceu numa família musical. Seu pai, Hans Dulfer, era um saxofonista bastante conhecido no país. Ele fundou o “Bimhaus”, famoso clube de Jazz inicialmente subsidiado pelo governo, como forma de promover as artes. Ironicamente, e vamos colocar ironia nisso, Hans foi excluído da organização original por haver abraçado estilos que fugiam às fronteiras estritas do Jazz tradicional. Ver seu pai estigmatizado pela mesma comunidade jazzística que ajudara a estabelecer teve impacto profundo na jovem Candy.

“Naquela época, mesmo ainda muito jovem, senti-me traída pela cena de Jazz Holandesa”, recorda Candy, em seu press-release. “Decidi que iria fazer as coisas do meu próprio jeito. Para começar, eu tocaria R&B (Rhythm & Blues), Pop, e o que mais me emocionasse. Posteriormente, decidi de que forma todo o Jazz que eu ouvira na infância se encaixaria no que eu estivesse fazendo. Na verdade, nunca toquei aquela coisa de raiz. Achei que seria um excesso de purismo e de cerceamento”, completa.

Amigos leitores, se vocês prestaram bem atenção nas palavras da Candy no press-release que me foi entregue pela produção do show, verão como a vida dá voltas e como os puristas erram a mão em muitas vezes por serem de mentalidade curta. Eu posso lhes dizer isso com muita propriedade, pois conheço bem e amo o Jazz tradicional, mas acho que a música não foi concebida para nos trazer limites e cercear a criação. Gosto já é uma outra questão bem complexa, mas torcer o nariz porque não se faz Jazz tradicional é de uma pequenez ímpar. E a vida acabou dando a volta por cima na família Dulfer.

Quando tinha cerda de 14 anos de idade, ela formou sua própria banda, a FunkyStuff (o nome já pode dar uma pista, uma ideia sobre a rebelião que ela empreenderia contra os limitadores parâmetros do Jazz tradicional), e vendo o sofrimento e abatimento do pai, ela não poderia ter agido de outra forma. Cinco anos mais tarde, em 1988 (e aqui mais uma tremenda coincidência, pois o meu primeiro álbum solo “Metrô” foi lançado nesse mesmo ano), quando gravou “Saxuality” – seu álbum de estreia –, a unidade musical ainda se mantinha intacta. Lançado em 1990, “Saxuality” vendeu a expressiva marca de mais de um milhão de cópias em todo o mundo e recebeu indicação para o Grammy. O imenso sucesso do disco levou a uma turnê mundial de Candy Dulfer com a FunkyStuff, no início dos anos 1990. Amigos, eu quero deixar claro que o nome e o estilo “Funky” a que Candy se refere é o do balanço da música negra americana, surgida nos guetos do Harlem, música de batidas espetaculares e que têm em Michael Jackson um de seus maiores embaixadores, e não aquela coisa pobre, totalmente desprovida de talento que se ouve em favelas aqui no Rio de Janeiro, e que as pessoas resolveram chamar de “Funk”, vulgarizando muito esse ritmo tão charmoso. Não é a primeira vez que comento sobre isso aqui em minha coluna, mas é meu dever alertá-los sobre o que o mercado é capaz de fazer para ganhar algum dinheiro, e o dito “Funk” carioca não é música, aquilo não é nada, é um lixo, é apenas uma forma de expressão dos morros do Rio, geralmente com cantores que nunca tinham entrado em um estúdio de gravação e produzidos com orçamento de pintura de geladeira. Mas agora, voltando a essa linda saxofonista, o que torna a coluna muito mais agradável: depois do lançamento de “Saxuality”, mais de 30 anos se passaram e os álbuns solo posteriores – além de participações como convidados em álbuns de outros artistas – continuaram a levá-la a turnês ininterruptas.

Nesse meio-tempo, Candy se apresentou com amigos em várias ocasiões. Participou de “Partyman” de Prince, em 1990, e tocou com ele na trilha sonora de “Graffiti Bridge”, lançada no mesmo ano. Participou de várias turnês com o artista desde o final dos anos 1990, inclusive na “Musicology”, em 2004. Também tocou com Prince em “3121”, lançado em 2006.

Outras colaborações incluíram, ao longo dos anos, Dave Stewart (Eurythmics), Maceo Parker (saxofonista da banda de James Brown), Van Morrison, David Sanborn, Beyoncé, Pink Floyd, Chaka Khan, Aretha Franklin, Blondie, Joey DeFrancesco e muitos outros. O quadro deixa claro que ela nunca se submeteria às limitações de um único gênero ou estilo.

Aqui, Candy Dulfer fala um pouco mais sobre sua forma de ver a música: “Acredito que uma das razões de minha carreira ter ido tão bem, se mantendo neste ritmo depois de tantos anos, é porque eu faço essa mistura realmente estranha de toda música com a qual cresci, mesmo que ela eventualmente não faça sentido. Não tenho medo de colocar Jazz e R&B na música que faço. Para algumas pessoas isto pode soar como loucura, mas há muitos que realmente gostam”.

A conclusão a que eu chego é que , de certa forma, toda a estupidez que fizeram com seu pai fez de Candy Dulfer a artista que ela é hoje, descobrindo seu verdadeiro caminho, e não se tornando uma saxofonista “cover” de tantos jazzistas puristas. Então, nós temos que agradecer a isso, e eu posso falar que gosto muito do som que ela faz. Seu show foi recheado de energia, pulsação forte, banda afiadíssima, com “combo” baixo e bateria jogando pro time, e jogando pesado no “Groove”, dois tecladistas sensacionais pilotando as máquinas. Com ela veio o veterano produtor holandês, o guitarrista Ulco Bed, que a produziu em “Saxuality” e “Sax-a-go-go”, e ainda uma grata surpresa, que foi a participação de Printz Board, diretor musical e produtor do Black Eyed Peas, trazendo um sotaque todo especial com pitadas de Hip-hop, levando Candy Dulfer em direção ao público mais jovem, renovando assim sua sonoridade. O Teatro Oi Casagrande me pareceu perfeito para esse show. Eu confesso que não me animo tanto para eventos monstruosos que, geralmente, não dá para ouvir ou ver com tanta perfeição. A minha ida ao Rock in Rio, quando comentei aqui o belíssimo e inesquecível show de Stevie Wonder, foi uma exceção, porque eu não perderia o Stevie por nada, mas um show como o de Candy Dulfer, num teatro super confortável, ar-condicionado perfeito, é muito melhor de se ver e ouvir. Pude vê-la de perto, tocando seu sax com muito vigor, sensualidade e muita desenvoltura no palco. Ao final, ainda tive o grande prazer de ela ter me recebido com muita simpatia e atenção. Minha filha, Giovanna, me apresentou a ela, e eu tinha levado meu último lançamento comigo, o CD “Segredos do Coração”, que lhe dei de presente. Fiquei surpreso quando ela nos disse que tinha adorado a capa de meu CD, com o Cadillac conversível, e que iria ouvi-lo com carinho. Agradeceu-me e tirou essa foto que vocês estão vendo agora, com ela que ainda fez questão colocar em mãos o meu CD, pena o reflexo da foto impedir uma melhor visão da capa; mas, amigos, para uma estrela internacional, que tocou com Prince e Pink Floyd, ser recebido com tanta simpatia, foi bacana demais.

Foi uma noite pra guardar na memória, e ainda fiz bonito de apresentar aquele sonzaço a minha querida filha, que me fez companhia aquela noite. Como falei no início da coluna, eu já conhecia o som de Candy Dulfer há muito tempo, acompanho sua carreira, gosto demais da maneira que ela toca e a conduz, e pude ver ao vivo e conhecer uma mulher lindíssima, simpatissíssima, sexy, alegre e de bem com a vida. Uma verdadeira superstar! Essa é Candy Dulfer, amigos leitores.

Vejam um de seus maiores sucessos, o clipe de “Lily Was Here”, com a participação de Dave Stewart do (Eurythmics): http://youtu.be/XhSx8uKdD5oe
Confiram também a música “Daylight”, com a banda que veio com ela ao Brasil. Deliciem-se: http://youtu.be/X4hOub6edhU

Beto Saroldi - Rio de Janeiro/RJ

Saxofonista, compositor e produtor musical, começou sua carreira em 1975 com Eduardo Dusek e desde cedo foi muito requisitado nos estúdios, gravando com Fafá de Belém, Zizi Possi, Capital Inicial, Barão Vermelho, Gilberto Gil, Toquinho, Lulu Santos e muitos outros astros da MPB. Fez parceria com Erasmo e Roberto Carlos, tocou com Wagner Tiso & Lô Borges e ainda pertenceu a "UmBandaUm" de Gilberto Gil, fazendo turnês pelo Brasil, EUA, Europa, América Central e Oriente Médio.

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