28 / 10 / 21

Outubro Rosa com a Dra. Gabriela Calado.


Há alguns dias para o fim do Outubro – Outubro Rosa, como costumamos anunciar – resolvi questionar numa tarde de atendimentos, algumas de minhas pacientes, portadoras de Câncer de Mama: com qual cor, elas enxergam, afinal, a vida?

Dentre todas, a primeira paciente  levemente me respondeu “quase um arco-íris” e aí enfatizou o bombardeio de emoções vividas, desde a suspeita após um autoexame, até o diagnóstico e, por certo, até o tratamento oncológico; ou melhor, até sentir a resposta ao tratamento. Reiterou, com o seu testemunho, que houve  dias de medo, preocupações e choros e que, diante da atual recuperação do corpo, as cores já ficaram mais suaves. Que alívio!

Segui o atendimento confiante de que ouviria mais relatos otimistas até, porém, viver instantes de tensão quando a segunda paciente, de imediato, não conseguiu me responder. Chorou com aquele questionamento inusitado. Lembrou-se da demora até procurar ajuda médica, referiu abandono do companheiro depois do diagnóstico e, por fim, soluçou um “cinza”. Que triste! Inquieta que sou, perguntei a ela o que eu poderia fazer para colorir um pouco a sensação dela. Pareceu-me, então, que eu tinha lhe dado uma real oportunidade de desabafo a quem cala tantas angústias. Depois de vê-la chorar mais um pouco, ela surpreendentemente se corrigiu: “- ficou menos cinza agora, Doutora”. Nossa! Como é importante escutarmos realmente alguém que automaticamente só consegue responder vagamente que “tá tudo bem”.

A terceira paciente, quase numa mesma conexão inicial coma anterior, afirmou: “a cor tá bem escura” e, antes que ela terminasse qualquer pensamento, sua filha completou “escura demais”.  Caramba! Como poderia relembrar a elas que estamos diante do Outubro – Outubro Rosa – se aquela concordância dentre as duas me calou? Eu não disse muita coisa, pedi apenas para examiná-la. Ao tocá-la, percebi o olhar de ambas acompanhando o meu e mesmo antes de eu terminar a avaliação física ou falar algo a mais, veio logo a pergunta traumática: “vou precisar tirar a mama, não é, Doutora?!”. “No seu caso, sim! A cirurgia é indicada a quem pode controlar ou curar a doença”! E, eis que a filha indagou: “ah, desse jeito, a cirurgia é uma benção?!”.” Certeza que sim! “, enfatizei. Momentos depois, esta consulta acabou – não sem antes eu pontuar o direito dela à reconstrução mamária após a mastectomia ou sem esclarecer que mesmo sem uma mama, ela ainda conseguiria realizar todas as atividades que desejasse. Não sei se fui capaz de melhorar a percepção dela sobre a realidade, mas tenho certeza que só a transparência é capaz de iluminar uma escuridão. Sim, liguei o interruptor de luz para elas.

Segui os atendimentos achando que não perguntaria mais a nenhuma doente qual cor definiria a vida, mas logo fui surpreendida por uma nova paciente toda pink! Ora, vamos para mais uma entrevistada, por que não?”. Prontamente escutei um “Rosa, Doutora Gabi. E pink está na minha paleta de cores!”. Surpresa, completei: “nossa, a senhora já fez esse negócio de paleta de cores?”. E eis que aí ela retrucou: “lógico que não, é que eu ressignifiquei tudo ao meu redor e pink é uma cor muito viva e isso combina comigo! Depois do diagnóstico de Câncer de Mama, o que eu mais quero é viver!”. Que maravilhosa! Neste segundo, ela continuou: “e olhe, Doutora, eu amo este mês! É justamente no Outubro que eu sei que mais mulheres são alertadas contra esta doença, fazem seus exames, melhoram qualidade de vida, marcam seus médicos, esclarecem suas dúvidas e sobrevivem! Até os homens, se tocam! Se eu pudesse, eu faria de tudo pra todos os meses serem Outubro, porque todos os dias, se a gente quiser, a vida pode ser rosa!”.  É bem isso: arrepiei!

Consultório acabou e até agora eu estou revivendo a emoção desses relatos todos. A verdade é que não teve um resposta mais correta, mas sim, a percepção de que na luta contra o Câncer de Mama, a cor da vida é a própria vida. E, independentemente, busquemos sempre viver um mar de rosas vivas, bem lindas: cuidando-se de Outubro a Outubro! Afinal, muito além deste mês, com qual a cor você quer definir a sua vida?

Dra. Gabriela Calado
Médica
CRM/PE 23645

@gabicaladosilva

Elexsandro Araújo

Nasceu em maio de 1986, em Recife, no estado de Pernambuco. é Empresário, Fisioterapeuta, Especialista em Gerontologia, Diretor Clínico do Institulo de Pilates Dr. Elexsandro Araújo, Professor, Escritor, Jornalista, Colunista Social, Editor-Chefe na coluna de FRENTE com Elexsandro Araújo, Cantor. Lançou o seu primeiro CD gospel autoral em 2017: Milagres. Publicou sua autobiografia em 2019: Entre a vida e o MILAGRE. No ano de 2020 publicou sua literatura de cordel: Letras de um Pensador. Entre os anos de 2019 e 2020 recebeu quatro premiações: Prêmio Destaque Nordeste. Prêmio Colunista Social Destaque Bernardo Guedes. Prêmio Personalidade Regional. Prêmio Ímpar Pernambuco. Possui diversas publicações em revistas nacionais e internacionais.

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