Hospital da Mulher e a UTI COVID: um legado de enfrentamento, inovação e superação
Por Dr. Luiz Guilherme Camargo de Almeida
Médico Nefrologista e Clínico Geral – Coordenador da UTI COVID do Hospital da Mulher (2020–2022)
A pandemia de COVID-19 impôs um desafio sem precedentes aos sistemas de saúde em todo o mundo, exigindo respostas rápidas, organizadas e baseadas em evidências. Em Alagoas, uma das respostas mais estratégicas foi a transformação do Hospital da Mulher Dr.ª Nise da Silveira, recém-inaugurado, em uma unidade exclusiva para o enfrentamento da nova doença.
A partir de 30 de março de 2020, o hospital suspendeu temporariamente seu perfil assistencial materno-infantil para acolher pacientes com COVID-19, disponibilizando 110 leitos, dos quais 55 eram de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), incluindo leitos pediátricos. Fui designado para coordenar essa UTI, um desafio que aceitei com humildade, senso de missão e plena consciência da gravidade da situação.
Logo no início, compreendemos que, além de estrutura e insumos, a eficácia da resposta estaria condicionada à inteligência organizacional e à capacidade de integrar conhecimentos diversos. Foi assim que nasceu a UTI Virtual COVID-19, um modelo inédito no estado, baseado em telemedicina. Através dela, casos graves eram discutidos em tempo real com especialistas de terapia intensiva de outras regiões do país, promovendo uma aprendizagem contínua, compartilhamento de boas práticas e segurança na tomada de decisões clínicas.
Em pouco tempo, o Hospital da Mulher tornou-se referência. Durante os dois anos de atuação como unidade COVID, mais de 4.700 pacientes foram atendidos, com mais de 3.400 altas hospitalares. Cada alta foi uma vitória coletiva. Cada perda, uma dor que reforçava nossa responsabilidade.
A pandemia evidenciou a necessidade de modelos assistenciais mais flexíveis, da valorização da saúde pública e do papel crucial do trabalho multiprofissional coordenado. O esforço incansável das equipes médicas, de enfermagem, fisioterapia, farmácia, nutrição e tantos outros setores foi decisivo para mantermos a dignidade do cuidado mesmo nos momentos mais críticos.
Em março de 2022, encerramos o atendimento exclusivo à COVID-19 e o hospital retomou sua vocação original. Porém, o legado dessa fase permanece: aprendemos mais sobre cooperação, comunicação, cuidado centrado na pessoa e sobre a importância de proteger nossos profissionais para que possam proteger a vida.
A experiência da UTI COVID do Hospital da Mulher mostrou que, mesmo em meio à adversidade, é possível inovar, salvar e transformar. Seguimos, agora, com a certeza de que cuidar exige ciência, mas também coragem, humanidade e liderança.
Cuide-se!
Hospital da Mulher e a UTI COVID: um legado de enfrentamento, inovação e superação