Problemas psicológicos e distúrbios psiquiátricos são muito comuns em doentes renais crônicos
No último encontro entre o nefrologista Luiz Guilherme Camargo de Almeida e o psiquiatra Emmanuel Fortes, pontos delicados foram abordados.
Drs. Emmanuel Fortes e Luiz Guilherme Almeida
Luiz Guilherme: A taxa de mortalidade em doentes renais crônicos é 20 vezes maior que a população geral, dados clássicos norte-americanos mostravam que 1 a cada 500 pacientes em diálise cometiam suicídio, há ainda mortes causadas por suicídio involuntário como: imprudência dietética, não adesão à terapia medicamentosa, interrupção precoce das sessões de diálise e outros comportamentos não cooperativos.
Emmanuel Fortes: A raiva é comum entre os pacientes que sofrem de doença crônica, é importante que a equipe de saúde não se irrite com comportamentos raivosos, as queixas devem ser atenciosamente acolhidas, mas claro, comportamentos que podem levar perigo ao paciente, aos outros pacientes ou à equipe de saúde não devem ser tolerados. Pacientes com psicose concomitante a outras doenças crônicas podem apresentar tal comportamento, a ajuda de um médico psiquiatra nesses casos é valiosa.
Luiz Guilherme: Um estudo da Dra. Sibela Vasconcelos Andrade e colaboradores, sobre desesperança e ideação suicida, publicado no Jornal Brasileiro de Nefrologia, mostrou que 4% dos pacientes em hemodiálise tem ideação suicida, a desesperança atinge 2% e até 20% apresentaram sintomas depressivos. O nefrologista deve abordar o paciente e acionar uma discussão familiar o quanto antes.
Emmanuel Fortes: Outro problema grave tem caráter social, mas com grande impacto no campo psicológico, é a reabilitação profissional e social desses pacientes. Mais de dois terços dos pacientes em diálise não retornam ao emprego que se encontravam antes do aparecimento dos sintomas da doença renal. O problema se agrava quanto pior a condição socioeconômica do paciente e o quanto de exigência física sua tarefa anterior o exigia. O assistencialismo social típico do Brasil sobrepõe-se às tentativas de reabilitação profissional o que onera ainda mais o contribuinte e piora a desesperança.
Luiz Guilherme: A prevenção desses distúrbios sociais, psicológicos e psiquiátricos está intimamente ligada ao tratamento adequado da doença renal e vice-versa. Pacientes adequadamente dialisados com prescrições medicamentosas adequadas e orientações continuadas apresentam menos complicações físicas e emocionais.
Emmanuel Fortes: Muito pode ser feito pra prevenir problemas psicológicos que frequentemente se apresentam em pacientes crônicos. Equipe multidisciplinar atenta, unida e proativa é fundamental para qualidade de vida dessas pessoas. Trabalho em equipe é mais saúde, é mais vida.
*Dr. Luiz Guilherme Camargo de Almeida (CRM/AL 6134 | RQE 3731)
É formado em Presidente Prudente/SP, em 2001, com especialização em Nefrologia pela Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência de São Paulo/SP, e título de especialista pela SBN/AMB.
*Psiquiatra Emmanuel Fortes é coordenador do Departamento de Fiscalização de Medicina e da Câmara Técnica de Medicina do Esporte, do Conselho Federal de Medicina (CFM)
LUIZ CARLOS BARNABE DE ALMEIDA
6 de julho de 2018 em 14:43Parabéns pela visão holística destes dois médicos especialistas. São profissionais desta qualidade que o Brasil necessita para enfrentar as dificuldades na área da saúde.