08 / 09 / 11

Um rei entre os profetas

Por Ovadia Saadia
Fotos: divulgação

Roberto Carlos entre as bandeiras do Brasil e Israel

Roberto Carlos entre as bandeiras do Brasil e Israel

Jerusalém, 7 de setembro de 2011 – O vôo 42 da El Al ainda deslizava pela pista do Aeroporto Internacional de Tel Aviv quando a aeromoça anunciou: “Bem-vindos a terra de Israel… Viaja conosco Roberto Carlos, o Rei da Música Latina”. Na primeira classe, vestindo colete e calça jeans, camisa azul, boné e óculos escuros, Roberto se acomodava ao lado de Dody Sirena, seu empresário, e esperava seu prato de salmão com arroz, iniciando uma viagem que o levaria à famosa Terra Santa – desembocadura até natural para um homem cuja religiosidade e misticismo confundem-se com a especialmente bem-sucedida carreira.

“Ele ajudou a formar toda uma geração. Amo todas as músicas dele”, derretia-se, já quando o avião passava sobre o Mediterrâneo, a argentina Diana Soae, de máquina fotográfica em punho, pedindo para o comissário de bordo da primeira classe uma foto do passageiro famoso. Diana, que viajava na classe econômica, conseguiu, e sua foto passou a ser disputada por alguns dos 20 jornalistas que viajavam a Jerusalém no mesmo avião, além de integrantes do grupo É Papo Firme (composto de fãs ardorosos).

Já em terra, o guia do ônibus, Iuval, argentino de Bariloche, mostrava-se paramentado e preparado para o show. “Quero ouvi-lo cantando especialmente uma música: Jesus Cristo. Aqui, em Jerusalém, vai ser de arrepiar”, afirmou. Iuval terá suas preces atendidas: o cantor garantiu, no repertório, ao menos três de seus clássicos religiosos: “Ave-Maria”, “A Montanha” e “Jesus Cristo”.

Roberto Carlos e Shimon Peres, presidente de Israel

Roberto Carlos e Shimon Peres, presidente de Israel

O show de Roberto, hoje à noite, no anfiteatro Sultan’s Pool, será num palco maior do que o que ele montou no show de fim de ano em Copacabana (400 m², ante cerca de 300 m² daquele), com 60 mil watts de som. O cenário mostra os pontos principais de Jerusalém, e deverá ser assistido por 6,5 mil pessoas. Roberto, durante a semana, filmou externas para o show da Rede Globo pelas ruas da Cidade Sagrada, a exemplo do que já fizera em sua única vinda à cidade, em 1968, para filmar “Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa”, um encantador e fraquinho Cult- clássico dirigido por Roberto Farias, que tinha Wanderléa, Erasmo Carlos e o saudoso José Lewgoy como protagonistas. Até hoje, emocionam as cenas de Wanderléa saindo das águas das deslumbrantes ruínas beira-mar de Cesarea, cantando “Você vai ser meu escândalo”. O filme foi de um sucesso imenso no Brasil e na América Latina, em 1969-1970, mas não foi distribuído em Israel. Na época, o grupo de artistas brasileiros em Tel Aviv, no Hotel Hilton, ficou amigo de outra estrela, Romy Schneider, que filmava Hero/ Bloomfield (Crepúsculo de um ídolo no Brasil, distribuído pela Columbia Pictures, em 1971), esquecido e fotogênico dramalhão anglo-israelense com Richard Harris, que dirigiu em parceria com Uri Zohar e que foi um – injusto- fracasso mundial.

“Ela, a Romy, era baixinha e de uma beleza infinita”, recorda Wanderléa. “Ficávamos na praia o dia todo”.

O Especial da Globo será transmitido para 115 países pela Globo Internacional

O Especial da Globo será transmitido para 115 países pela Globo Internacional

No restaurante do hotel King David Citadel, o cinco estrelas mais famoso do país, cenário de acontecimentos históricos, onde Roberto se hospedou, o pianista com quipá tocava sorridente “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, esperando que o hóspede mais célebre descesse para ouvi-lo. Mas Roberto estava surdo, naquele momento. “Cheguei e fui dormir. Tava cansado, esse fuso horário… Aqui do outro lado do mundo…”, disse o cantor. “Mas acordei cedo para o encontro com o presidente Shimon Peres”.

Roberto foi recebido pelo presidente de Israel, o Prêmio Nobel da Paz Shimon Peres, de 88 anos, em sua residência, no bairro de Talbia. Durante 30 minutos, trocaram cumprimentos mútuos. “Sua voz chegou a Jerusalém antes de seu corpo”, disse Peres ao Rei. Roberto (confessadamente com a ajuda de assessores) decorou algumas palavras em hebraico para dizer ao líder: “Shalom aleinu veal kol haolam” (“Paz para nós e para o mundo todo”). E cantou a capela “Emoções” para os presentes, uma canja das mais privilegiadas. Peres, um homem de aço, se emocionou.

Operação gigantesca e aparatos de Ídolo
Cerca de quatrocentas pessoas estão trabalhando nesse espetáculo, direta e indiretamente. Uma equipe de trinta profissionais da Rede Globo foi para Israel para a captação do show, a acontecer hoje à noite, que também terá o apoio de empresas locais de produção. Para a transmissão, será usada uma Unidade Móvel de Produção, com 14 câmeras, quatro equipamentos robotizados para movimentação de câmeras, uma unidade móvel de mixagem e gravação de áudio e duas unidades de transmissão via satélite para a recepção do show.

A quantidade de cabos utilizados na montagem de todo o aparato técnico chega a quatro quilômetros, o que daria para dar a volta em toda a muralha da cidade antiga de Jerusalém.

O cenário traz sete elementos arquitetônicos que representam Jerusalém. Nas laterais, dois telões de 4x10m (o equivalente a um prédio de três andares) reproduzirão as imagens do show. O palco terá 40 metros de frente e 26 metros de profundidade. Em frente ao palco, serão usadas pedras locais para dar ainda mais realidade ao cenário.

O show de Roberto Carlos na Cidade Sagrada será transmitido com exclusividade pela Rede Globo neste sábado (10), logo após a novela “Fina Estampa”.

Cantando em hebraico
O show terá músicas em diversas línguas. Além do português, haverá canções em inglês, italiano e espanhol. E, talvez, também em hebraico. “Estamos ensaiando”, revelou o cantor em entrevista coletiva realizada. No entanto, isso só vai acontecer se ele estiver totalmente seguro de se sair bem na língua. “Não quero cantar olhando no teleprompter”, riu.

“Quero que Tudo Vá para o Inferno”, que Roberto não interpreta há décadas por conta da carga negativa da palavra ‘inferno’, também não entrará. “Ainda não estou pronto para voltar a cantar essa música. Mas em breve estarei”, revelou.

O show do Rei em Jerusalém acontece hoje, dia 7 de setembro, num espaço chamado Brechat Hasultan (em português, Piscina do Sultão), localizado ao lado da muralha da Cidade Velha. A apresentação será filmada pelo complicado diretor Jayme Monjardim, e vai virar um especial que será exibido na TV Globo no dia 10. Além das imagens da apresentação, o programa terá cenas do cantor visitando vários pontos de Jerusalém.

Não é a primeira vez que Roberto Carlos grava na cidade. Em 1968, cenas de “O Diamante Cor-de-Rosa”, longa estrelado por ele ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa, foram filmadas em Jerusalém. “Na época, mal tive tempo de conhecer a cidade. Foram apenas quatro dias, e as filmagens levavam o dia inteiro”, lembra. Dessa vez, ele quer aproveitar para conhecer locais como o Muro das Lamentações, as beatitudes, a via dolorosa e a Igreja do Santo Sepulcro.

Segundo o cantor, a ideia de se apresentar em Israel foi de seu empresário, Dody Sirena. “Essa loucura partiu dele”, riu. A cidade está cheia de cartazes anunciando o show. É que, dos mais de 5 mil ingressos colocados à venda, apenas 1,5 mil são para os brasileiros que compraram pacotes turísticos para Jerusalém que incluem a apresentação. Os demais são destinados ao público local. O show, além de virar um especial da TV Globo, também será lançado em DVD. Com isso, o tão aguardado novo álbum de inéditas de Roberto Carlos foi adiado mais uma vez. “Eu já fico até sem graça em falar nesse disco”, ri. Seu último CD de material inédito saiu em 2005. “Quase todas as músicas estão prontas. Mas aí o Dody sempre aparece com um projeto novo e o disco fica para depois. A culpa é dele.”

Roberto Carlos no Kotel

Roberto Carlos no Kotel

Entre essas músicas já prontas, há tanto canções que Roberto fez sozinho como parcerias com Erasmo Carlos “O Erasmo é craquérrimo”, elogia o cantor. Ele conta também que gostou muito do disco mais recente do parceiro, “Sexo”. “E também está bem assanhadinho”, brinca, referindo-se à temática do álbum, todo composto de músicas sobre, como o próprio título indica, sexo.

Na entrevista, Roberto ainda fez alguns comentários sobre sua vida pessoal. Reconheceu que o último ano foi bastante difícil, por causa da morte de sua mãe, Lady Laura, e de sua enteada. “É tudo muito sofrido. Mas a gente tem que seguir adiante”, afirmou. Uma das canções em Espanhol será uma comovente versão da melodiosa Lady L. Quando perguntado se aproveitaria a passagem pela Terra Santa para pedir um novo amor, ele se esquivou. “Não pensei nisso”, disse. Mas depois declarou que seu coração “está aberto”.

A conversa terminou com algumas observações sobre o governo Dilma Roussef. O cantor fez uma avaliação positiva da presidenta. “Ela está indo bem. Mas ainda tem que lutar muito, tem que ser muito forte.”

Notícias

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *