10 / 02 / 12

Alimentação e inflação no Brasil

Imagem: Internet

Há pouco mais de cinquenta anos, o maior desafio da humanidade era alimentar sua crescente população.

Lembro de máximas (que viraram mínimas), que diziam assim: “A população cresce em escala geométrica e a produção de alimentos cresce em escala aritmética, portanto, as pessoas terão carência de alimentos, num futuro breve.”

Esta inverdade e tantas outras caíram por terra através do conhecimento científico, e um nome entre tantos outros, merece ser recordado: Norman Borlaug.

Este homem, um agrônomo e cientista de primeira grandeza, revolucionou a agricultura com o entendimento das reais necessidades dos solos para nutrir adequadamente as plantas. E a produtividade das lavouras de todo o planeta duplicou, triplicou, e aliado a outras tecnologias permitiu à humanidade viver com celeiros e lagares abarrotados.

Entretanto, o fantasma da fome ainda ronda quase um terço da população mundial. É um fato incoerente criado pelo bicho homem; não pela capacidade de produzir comida, porque não falta tecnologia, e nem falta terra.

Ocorre é que sobra ganância!

Pela benignidade de Deus, tive a oportunidade de vivenciar famílias na penúria, sem o suficiente para se alimentar, ocupando vastas áreas de terra, e tais famílias superaram as adversidades.

Com solo exaurido por sucessivas colheitas e sem quase nenhum conhecimento agrícola, a terra produzia praticamente nada. Então chegaram os técnicos, os insumos, as inovações, as receitas, as fórmulas, as calagens e correção de solo, as sementes melhoradas geneticamente e tantas outras coisas, cujo conjunto, aliado às chuvas no momento certo, permitiu colheitas fantásticas, que renovaram as esperanças destas mesmas famílias. E eles viveram a prosperidade!

Poucos sabem o extraordinário trabalho que a Sadia desenvolveu a partir do início dos anos sessenta, em prol dos produtores rurais do oeste catarinense. Poucos aquilatam a importância da trilogia ensinada por Attilio Fontana: Homem, Terra, Técnica (a valorização destes três elementos para o progresso da humanidade). E este trabalho pioneiro colaborou extraordinariamente para o desenvolvimento da região de Concórdia e do oeste catarinense, e foi copiado quase de imediato por outras empresas, melhorando a qualidade de vida de milhares de lares, especialmente de minifúndios de agricultura familiar.

O homem planta e cuida, mas Deus é quem faz crescer. Creia nisso!

Hoje as notícias informam que os preços dos alimentos estão gerando inflação. Tudo sobe além do previsto e pouquíssimos percebem que o governo brasileiro é o principal responsável pelo alto preço de nossa comida, porque os impostos brasileiros sobre alimentos são os maiores do mundo.

Quiçá houvesse alguém com noção na presidência deste país, para reduzir de imediato as tarifas sobre alimentos básicos. Aí sim, teríamos de fato, fome zero!

Tão lógico, tão simples, e ninguém faz.

Há anos propalo aos quatro ventos que impostos sobre alimentos básicos não deveriam existir! A média dos impostos sobre alimentos no mundo fica ao redor de 7%, e no Brasil, a média de impostos sobre alimentos é de 23%. Isto me permite dizer que, consoante ao programa Fome Zero, o governo federal dá com uma mão e tira com duas!

O que causa inflação, todos sabem: preço dos combustíveis (o governo fica com a metade), preço dos alimentos (o governo fica com a quarta parte), preço dos serviços públicos (tudo aviltado, assoberbado), preço da habitação, preço da educação, preço da saúde, preço do transporte, preço da segurança, o vergonhoso gasto público, os juros escorchantes de nossas instituições financeiras, o roubo generalizado em todas as esferas de poder, e o desperdício de bens, entre outras coisas.

A logística de transportes é caos e a “BuracoBras” impera em todas nossas rodovias (exceto as pedagiadas), e isto dificulta o poder aquisitivo do pato contribuinte.

Outro sério problema é a constatação de que somos a nação que mais desperdiça alimentos no mundo. É fato concreto! Infelizmente, carecemos de hábitos de aproveitar melhor os alimentos adquiridos, e poucos sabem que partes menos nobres (cascas, talos, sementes) de alimentos diversos possuem grandes quantidades de nutrientes, notadamente vitaminas e minerais, via de regra deficientes na dieta da população mais pobre.

O IBGE mostra que o desperdício de comida dentro dos lares brasileiros é acima de 20%, ou seja, um verdadeiro absurdo! Mas a perda efetiva de alimentos desde a colheita até a ingestão pelo cidadão é, pasmem, superior a 50%. Mais da metade vira lixo orgânico, seja por mau armazenamento, seja por desconhecimento técnico e doméstico.

É lixo abundante para a proliferação de ratos e mosquitos e tantos transmissores/vetores de doenças sérias. Apenas as feiras livres da cidade de São Paulo desperdiçam acima de mil toneladas de alimentos por dia. POR DIA!

Previsões otimistas informam que teremos quebra de 3,5% na safra de grãos 2011/2012, em função especialmente da seca no sul do país. Isto complica o cenário de preços de alimentos e os preços das carnes disparam sobremaneira.

Então, a síntese é simples: nós, brasileiros, não sabemos administrar a abundância! Somos incompetentes e, pior que isso, pouco interessados em aprender! A Internet está aí com toda informação disponível. Ligue-se nela!

Meu prezado, desligue a TV, porque eles não estão ligados em você e nunca estiveram! Preocupe-se em ler mais, em entender mais, em saber mais, e verá o mundo brilhar mais intensamente. Saber nos ilumina e nos aproxima de Deus. Albert Einstein, que o diga.

Com carinho,
João Antonio Pagliosa

João Antonio Pagliosa - Curitiba/PR

João Antonio Pagliosa é engenheiro agrônomo de Santa Catarina formado pela UFRJ, e especialista em Reflorestamento, Serviços Topográficos, Avaliações e Peritagens em temas agropecuários e florestais, Nutrição Animal, Armazenagem de grãos e Fabricação de rações, Palestras Técnicas e Motivacionais, Avicultura e Suinocultura. Atualmente é corretor de imóveis da Imobiliária Galvão e escritor com diversos artigos publicados em jornais do país.

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