Táxi

Por José Carlos Paiva Bruno (OABRJ73304)

Noite dessas geladas, recolhido ao quarto em minha cama. Onde de súbito tomou-me estranha angústia, ondas frias alcançavam alma tornando meu espírito aflito, donde cobertores descumpriam ritos, contra aconchegantes. Assim num desespero baixa temperatura, com coração invoquei: Cristo tem misericórdia de mim! Enquanto revezavam-se pensamentos algozes, aqueles inadimplentes impostos atrozes, contas cotidianas ferozes e o abandono vil do governo, pós-BB… Tribunais Trabalhistas, manipulados impotentes em ordenar o pagamento de nossas lides vitoriosas.Ali, ao desamparado amparo, nova invocação, e a geada aumentava, sentia-me qual caçador em meio à tempestade, sem bússola e faro, na arma só mais um disparo. Assim estava escrito nalgum lugar, assim foi feito, em terceira invocação reiterava humilde favor da misericórdia divina. Repentinamente envolveu-me um calor de abraço, nunca antes experimentado, assim um laço sistino, verdadeiro lenitivo. Paz dum rápido segundo definitivo… Assim Zé Ramalho: apenas apanhei a beira-mar, um táxi pra estação lunar! Beijo seu rosto de neve, com meus olhos úmidos e coração de leão…

Curioso é que no frêmito anterior à experiência do abraço, este onde efetivamente você sente que não carece mais nada, minha vida em flashes pretéritos passou qual cinema diante de mim. Como se o referencial tempo e seus limites inexistissem, tudo foi suficiente compreensível nitidamente: como nas vezes em praticar o perdão, vozes em que foi possível ajudar a um desconhecido ou mesmo familiar, noutras em esmerar-me profissionalmente e também discente. Confirmando meu sempre crente docente em que estamos todos aqui por uma prenda muito especial. Admonenda dita vítima ou coitada criatura; bendita por quem dá mais, quem pode mais… Adormeci prece, gratidão de socorro à messe. Dia seguinte despertei pra labuta, onde a Providência novamente permitiu visão solução ao novo problema, sequer imaginada sua dimensão antes. Sempre busquei ver o melhor no que me acontece, até onde normalmente a maioria vê prejuízo, enxergo – até no congestionamento do trânsito, por exemplo, pode estar ali para livrar dum acidente em frente – oportunidade… Deus nos fala permanentemente através de fatos e atos, pessoas onde precisamos estar atentos. Melhor fazermos cotidiano em esperança: distância necessariamente percorrida até o melhor, pois é para o melhor que nascemos e vivemos…

Entrelaçando nossos diversos dons, com respeito, solidariedade e sem remorsos. Livres de cobiças ou intrigas pejorativas… Como na velha piada do médico e o mecânico, quando este terminava de “fazer” potente motor, admirando sua eficiência sobre a bancada da oficina, em que chega o médico trazendo seu carro pra revisão. Sendo interpelado pelo mecânico: Pois é Doutor, acabo de retificar este motor, troquei os pistões, anéis, bielas e agora está novinho. Digo que fazemos a mesma coisa, sinceramente não entendo porque ganho menos que o senhor em suas cirurgias? Ao que foi respondido pelo médico: Experimente fazer isto com ele ligado! E por favor, me chame um táxi…

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