28 / 09 / 22

RESENHA ENERGÉTICA

“Energia é o que tensiona o arco; decisão é o que solta a flecha”. (Sun Tzu)

                O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou recentemente a Resenha Energética Brasileira 2022 mostrando os dados consolidados da Matriz Energética Brasileira (MEB) em 2021, também conhecida como Oferta Integrada de Energia (OIE). Muitos confundem a Matriz Energética com a Matriz Elétrica, quando na realidade a matriz elétrica (eletricidade), faz parte da matriz energética (energia), pois a eletricidade é apenas uma forma de energia. Em ambos os casos, dependendo de quem quer citar o dado em benefício do seu interesse, também “confunde” a matriz potência instalada com a matriz energia consumida, que são conceitos diferentes. Na matriz energética os dados de quantidade e consumo de cada fonte são convertidos para tep (toneladas equivalentes de petróleo) ou apresentados em percentuais de participação de cada fonte. Na matriz elétrica a potência é dada em GW (gigawatt) ou MW (megawatt) e a energia consumida em TWh (terawatts-hora) ou GWh (gigawatts-hora) e também em percentuais.

Resenha Energética

            Potência elétrica é a capacidade instalada; energia é o tempo que em que essa potência funciona, razão pela qual a energia está sempre relacionada com o tempo de funcionamento (hora, por exemplo). Em 2021, na matriz elétrica brasileira, vemos que a potência instalada era de 181.610 MW para uma demanda máxima de 91.515 MW. Isso mostra que temos muita capacidade instalada para a carga do nosso sistema, ou seja, um investimento grande em potência que não está sendo utilizada, mas que precisa de tarifa para remunerá-la. Numa visão macro da nossa matriz energética 2021, observamos que houve um avanço 4,5% em relação a 2020, um valor muito próximo do incremento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, cujo crescimento foi de 4,6%. No documento citado, com os dados de 2021, podemos retirar as seguintes informações, comparadas com 2020:

            NA MATRIZ ENERGÉTICA: as fontes solar e eólica tiveram um aumento de 0,7%; as fontes renováveis registraram um decréscimo de 3,6% em decorrência da escassez hídrica e da menor oferta de produtos da cana-de-açúcar, quando totalizaram 44,7% da OIE; as fontes renováveis são cerca de 4 vezes a média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e 3 vezes o índice médio do mundo; para as fontes não-renováveis foi registrado um acréscimo nas emissões de gases de efeito estufa, com o nosso indicador registrando 1,44 tCO2/tep, mas ainda assim um valor 33% inferior ao da OCDE e 37% menor quando a comparação é com o resto do mundo; a oferta de gás natural aumentou 18,9% e o carvão mineral também cresceu 21,3%, recursos esses que foram usados, tanto para geração elétrica como para o setor industrial. No que se refere ao petróleo foi registrado que alcançou 301,5 milhões de tep em 2021 na Oferta Integrada de Energia; o consumo final de energia (CFE) teve um aumento de 3,5%, o que pode ser traduzido como uma retomada econômica do país pós-pandemia; apesar de ter sido um dos setores mais afetados em 2020, no setor de transportes foi registrado um aumento no consumo de energia em 7,3%, sendo que o setor aéreo foi responsável por 32,6% e o rodoviário por 6,9%; o setor industrial aumentou o consumo em 3,6% e o comércio em 6,6%.

            NA MATRIZ ELÉTRICA: a contribuição das renováveis na expansão foi de 89% na sua capacidade instalada, que no total em 2021 atingiu 190,6 MW, um valor 6,2% superior quando comparado com 2020; o crescimento da geração solar foi de 55,9% em 2021, a maior taxa registrada entre as fontes renováveis. Somente na geração distribuída, esse crescimento do solar fotovoltaico foi de 53,8%; a geração eólica teve um incremento de 26,7%, quando o grande destaque foi o estado do Rio Grande do Norte; os combustíveis fósseis registraram uma expansão de 10,9% das reservas provadas de petróleo, que atingiram 13,2 bilhões de barris. O crescimento da produção de gás natural foi de 4,7%.

            Do Brasil para o mundo, estamos agora com um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês), mostrando que metade dos empregos em energia estão vinculados a energia renovável, dos quais, dois terços dos trabalhadores são envolvidos na construção de novos projetos e na fabricação de tecnologias. A quantidade de empregos em energia ultrapassou os 65 milhões registrados antes de 2020, o que representa 2% da força de trabalho mundial. O que chama a atenção é que mais da metade desses empregos está na região da Ásia-Pacífico, sendo que a China responde por 30% dessa demanda global no setor. Certamente que esse volume significa uma rápida expansão da infraestrutura de energia, aliada ao acesso da mão-de-obra de baixo custo, que passou a ser solicitada nos centros de fabricação para que pudessem atender aos mercados locais e de exportação.

            Observando-se a cadeia de valor, podemos ver que um terço dos funcionários estão no fornecimento de combustível energético (petróleo, gás, carvão e bioenergia); outro terço está no setor de energia (geração, transmissão, distribuição e armazenamento); e o terço restante nos usos finais da energia (eficiência energética e fabricação de veículos). Cerca de 45% dos trabalhadores de energia no mercado mundial se encontram em ocupações altamente qualificadas, contra 25% para a economia em geral. As projeções mostram que até 2030, serão criados 14 milhões de empregos na energia verde, ao tempo que 16 milhões de trabalhadores deverão ser capacitados para assumirem novas funções.

            O setor de petróleo e gás ainda não se recuperou dos efeitos da pandemia, embora tenha registrado crescimento nas contratações para novos projetos, a maior parte deles direcionado para a infraestrutura de GNL (Gás Natural Liquefeito). Certamente que as políticas decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia, a dependência da Europa do gás russo e a lei de redução da inflação nos Estados Unidos serão fatores de incentivo ao aumento da demanda.

            Segundo a IEA, as empresas devem colocar foco no treinamento e na capacitação profissional para que a transição energética possa beneficiar o maior número de pessoas possíveis. Uma das estratégias que está sendo usada pelas empresas de combustíveis é treinar os funcionários para cargos em áreas de baixo carbono, com o objetivo de reter talentos ou até mesmo ter uma maior flexibilidade operacional de conformidade com as suas necessidades.

Resenha Energética
Por Geoberto Espírito Santo
GES Consultoria, Engenharia e Serviços

 

Geoberto Espírito Santo

SinergiaGeoberto Espírito Santo é Engenheiro Civil, formado em 1971 pela Universidade Federal de Alagoas. Atualmente é Consultor do SINDENERGIA – Sindicato das Indústrias de Energia do Estado de Alagoas e Personal Energy da GES Consultoria, Engenharia e Serviços – GES Consult ATIVIDADES QUE EXERCEU: - Engenheiro da Companhia Energética de Alagoas (CEAL), por 28 anos - Diretor de Operação da Companhia de Eletricidade de Alagoas - CEAL - Secretário de Administração da Prefeitura Municipal de Maceió - Assessor de Coordenação e Planejamento da Empresa de Recursos Naturais do Estado de Alagoas - EDRN - Chefe de Gabinete da Diretoria de Desenvolvimento Energético da CEAL - Assessor da Subcomissão de Minas e Energia do Senado Federal - Diretor de Distribuição e Comercialização da Companhia Energética de Alagoas - CEAL - Consultor em eficiência energética do PNUD / ELETROBRÁS - Secretário Executivo do Núcleo de Eficiência Energética na Indústria (NEEI / FIEA) - Secretário Executivo do Conselho Estadual de Política Energética de Alagoas - CEPE - Secretário de Estado Adjunto de Energia e Recursos Minerais de Alagoas - Vice-Presidente de Planejamento Energético do Fórum Nacional dos Secretários de Estado para Assuntos de Energia - FNSE - Representante da Região Nordeste no Conselho Consultivo da Empresa de Pesquisa Energética – EPE - Diretor Presidente da Gás de Alagoas S.A. – ALGÁS - Vice-Presidente do Conselho Estadual de Política Energética de Alagoas – CEPE - Presidente do Conselho Fiscal da ABEGÁS – Associação Brasileira das Empresas das Empresas Distribuidoras de Gás Natural – ABEGÁS - Professor nas disciplinas de Eletricidade e Eletrotécnica, no Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas – UFAL - Membro do Conselho Estadual de Política Energética – CEPE LIVROS E TRABALHOS PUBLICADOS: - Protestos e Propostas (EDUFAL) - Energia: Um Mergulho na Crise (IGASA) - Política e Modelagem do Setor Elétrico (Imprensa Oficial GRACILIANO RAMOS) - Espírito Cidadão (EDUFAL) - Vários trabalhos sobre energia publicados nos anais de Seminários, Congressos Nacionais e Revista Internacional

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